Tratamento extenso e pesado e ambiente de trabalho pouco inclusivo e preparado podem ser as causas
Outubro, mês oficial da conscientização para o câncer de mama, chegou ao fim, mas outro tema é recorrente o ano inteiro: a alta taxa de mulheres que não retornam ao trabalho após vencerem a doença.
Uma pesquisa feita pela Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) mostra que a taxa de retorno ao trabalho de mulheres após dois anos do diagnóstico de câncer de mama é de 60%, logo, 40% acabam não retornando para suas atividades. Esse número é maior do que na Holanda, por exemplo, onde o Coronel Institute of Occupational Health, em Amsterdã, fez o mesmo estudo e constatou que o número de pacientes que não se recolocam chega a 36%.
O tratamento mais extenso e rigoroso que outros tipos de doenças oncológicas é apontado como uma das razões. Outras podem estar ligadas ao próprio ambiente de trabalho pouco acolhedor e inclusivo.
De acordo com o estudo, a falta de ajustes no ambiente de trabalho, condição necessária para que o paciente possa lidar com os efeitos adversos do tratamento ou a falta de tempo para exames e consultas, foram os principais fatores de saída do emprego: só 29% das pacientes que participaram da pesquisa conseguiram esse tipo de flexibilização.
Durante o tratamento, a lei brasileira garante que elas tenham acesso a um auxílio-doença, saque do FGTS, isenção de imposto de renda e acesso ao tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar desses direitos, de acordo com Lu Braga, voluntária de pacientes oncológicos há mais de 20 anos, um problema que aflige os pacientes, é que nem todos que são curados conseguem voltar ao trabalho ou se recolocar por conta de sequelas físicas e emocionais.
“Por não garantir uma estabilidade no emprego, como em casos de gestantes, o paciente oncológico já com emocional abalado, tende a ser mais prejudicado, visto que não há uma lei específica para pacientes com câncer”, afirma Lu Braga. “Porém, a demissão não pode ocorrer em razão de discriminação pelo fato de o empregado ter alguma doença grave”, completa.
Apesar do número de empresas brasileiras engajadas com a campanha Outubro Rosa aumentar a cada ano, ela comenta que é ainda preciso fazer um trabalho de mais conscientização com os colaboradores da empresa e pensar em adaptações e flexibilização necessárias para acolher essas mulheres.
E é sempre bom lembrar: “O câncer tem cura e o melhor remédio é a prevenção”, finaliza Lu Braga. Com o avanço da medicina, após diagnosticada a enfermidade, a média de cura para a paciente com câncer de mama é de até 75% – com 95% de chances em casos em estágio inicial.
Fonte: Valor-Investe
Disponível em: https://valorinveste.globo.com/objetivo/empreenda-se/noticia/2021/11/03/40percent-das-pacientes-com-cancer-de-mama-nao-retornam-ao-trabalho-dois-anos-apos-diagnostico-afirma-pesquisa.ghtml
Acesso de 11 de novembro de 2021