Entenda a relação do estilo de vida e com o câncer de mama

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No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas nas regiões Sul e Sudeste. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), para o ano de 2023 foram estimados 73.610 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 41,89 casos por 100.000 mulheres¹.

As estatísticas brasileiras e mundiais vêm mostrando um aumento progressivo da doença ao longo das décadas e, de acordo com a ginecologista e mastologista do Hospital Leforte Morumbi (DASA), Dra. Daniele Duarte, existem várias explicações para isso, muitas relacionadas às condições reprodutivas da mulher: adiamento da maternidade ou mesmo decisão por não gestar; não amamentar; a primeira menstruação cada vez mais precoce; o uso de métodos contraceptivos hormonais; e a terapia hormonal na pós-menopausa. “Outra explicação se dá pelos hábitos de vida. O câncer de mama tem uma forte relação com exposição hormonal, mas não podemos excluir a influência do ambiente. Sabe-se que o sedentarismo, obesidade, ingesta de álcool (mesmo que esporádica) e alimentação de padrão ocidental (excesso de carne vermelha, alimentos processados e ricos em açúcar) aumentam o risco da doença”, explica a Dra. Daniele. Segundo ela, estudos já apontaram inclusive que o consumo de álcool e o sedentarismo aumentam o câncer de mama tanto após a menopausa quanto nas idades mais precoces, quando a enfermidade é, inclusive, mais rara.

Obesidade e sedentarismo 

A obesidade e o sedentarismo, quase sempre atrelados, são conhecidamente associados aos riscos de diabetes e doença arterial coronariana, mas é importante destacar que possuem relação direta para o desenvolvimento de câncer, particularmente câncer de mama. “Temos evidências que a obesidade, sendo um processo inflamatório prolongado, eleva o risco de câncer de mama por aumento de citocinas pró-inflamatórias e do processo de angiogênese tumoral, promovendo ambiente favorável para o desenvolvimento de células tumorais incipientes e aumentando risco de invasão tumoral e metástases. Em análise estatística de subgrupos, os subtipos de câncer de mama relacionados à presença de receptores hormonais são os que possuem maior relação com a obesidade, em especial pelos efeitos pró-proliferativos dos estrogênios, os quais sugerem um importante papel na carcinogênese”, esclarece o oncologista do Hospital Moriah, Dr. Raphael Brandão.

Ele afirma que o entendimento desses mecanismos e a clara associação entre estilo de vida e risco aumentado de câncer de mama devem ser amplamente discutidos, principalmente pela possibilidade de instituir medidas de intervenção aos pacientes, como controle de peso e atividade física, estruturados como prevenção primária e secundária, diminuindo assim a incidência e a prevalência do câncer de mama. 

Quando o risco está nos medicamentos

O uso de algumas medicações está relacionado a uma maior incidência para câncer de mama, sendo os anticoncepcionais hormonais (orais ou em forma de dispositivo), a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) e drogas utilizadas no tratamento de infertilidade os principais exemplos. “O mecanismo de pró-proliferação atribuído aos estrogênios corroboram nessa relação causal, porém o câncer de mama é multifatorial e um fator de risco isolado não explicaria o desenvolvimento desse tipo de câncer”, diz o Dr. Brandão.

Ele explica que existe uma associação já conhecida sobre o uso de anticoncepcionais hormonais a uma maior incidência de câncer de mama, quando vários estudos de Coorte e metanálises atribuíram um risco aumentado na média de 10% para pacientes sob esquema de anticoncepção hormonal. 

“Um importante estudo publicado por Morch e cols na New England Journal of Medicine avaliou grande número de mulheres usuárias de anticoncepção hormonal (n=1.800.000), incluindo DIU com Levonogestrel, entre 15 e 49 anos de idade, sem antecedente pessoal de câncer de mama e sem histórico de tratamento para infertilidade. Durante seguimento de mais de 10 anos, os autores evidenciaram um aumento do risco de cerca de 20% para câncer de mama em usuárias de métodos hormonais, quando comparado com as não usuárias”, conta. 

O Dr. Brandão acrescenta que também foi observado que o risco de câncer de mama era crescente com o passar da idade e que, mesmo com a interrupção do uso da anticoncepção hormonal oral, o risco mantém-se alto por pelo menos mais cinco anos. “Os estrogênios apresentam, sabidamente, efeitos pró-proliferativos, sendo frequentemente associados ao aumento de incidência de câncer de mama por sua aparente ação carcinogênica, porém, é necessário discutirmos que o câncer de mama é uma doença multifatorial e que, fatores de risco isolados não seriam suficientes para explicar o seu desenvolvimento. Assim como os anticoncepcionais hormonais, drogas utilizadas em terapia de reposição hormonal pós-menopausa e em tratamentos contra infertilidade, pelos mesmos mecanismos, estão relacionadas a uma maior incidência de câncer de mama”, completa. 

Hábitos que contribuem com a prevenção 


Uma das principais formas de prevenção do câncer de mama está relacionada à atividade física. “Praticar atividades regularmente, na duração preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que é de 150 minutos por semana, é capaz de prevenir o câncer de mama tanto antes quanto depois da menopausa. Estima-se uma redução de risco de 3% a cada 180 minutos de atividade física por semana”, diz a Dra. Daniele. 

De acordo com ela, no que diz respeito ao peso, estudos mostraram redução de 25% a 40% do risco de câncer de mama nas mulheres que perderam cerca de 5% do peso na pós menopausa, em comparação às mulheres que continuavam a ganhar peso. “Quanto à ingestão de álcool: não existe dose segura, e mesmo o consumo esporádico é responsável por aumentar o risco de câncer de mama”, comenta. 

A redução de risco do câncer de mama por meio de estratégias de mudança de estilo de vida é caracterizada como prevenção primária, enquanto promover um melhor impacto do tratamento em mulheres já diagnosticadas e, assim, diminuir a chance de recidiva é caracterizada como prevenção secundária. “Esses são os dois pilares que estão passíveis de maior impacto no desenvolvimento e evolução do câncer de mama. Sendo a obesidade e o sedentarismo os fatores mais relacionados ao desenvolvimento desse tipo de câncer, frequentemente associados entre si, planos de cuidados baseados em estratégias de perda de peso e no estímulo à realização de atividade física são pontos fundamentais na redução dos números de câncer de mama em mulheres de todas as idades e, de forma especial, em mulheres pós-menopausa”, acrescenta o Dr. Brandão. 

Quimioprevenção 

A estratégia de usar medicamentos para prevenir o aparecimento do câncer de mama é chamada de quimioprevenção, segundo explica a Dra Daniele, esclarecendo que, entre as medicações, estão os bloqueadores hormonais, como inibidores de aromatase (anastrozol e exemestano), tamoxifeno e raloxifeno.  

Em geral, elas são usadas numa média de cinco anos. “O uso dessas medicações merece ser sempre individualizado, especialmente pelo risco de efeitos colaterais, como trombose e osteoporose. Uma das indicações mais comuns do uso dessas medicações são as mulheres que já foram submetidas a biópsia mamária e que tiveram um resultado prévio de atipia da mama”, afirma. 

Ela conta que existem ferramentas destinadas exatamente para calcular o benefício de uma mulher usar essas medicações, como a escala de Gail. “Essa escala calcula o risco de uma mulher desenvolver câncer de mama em cinco anos, e no caso do risco ser acima da média, a medicação está indicada, desde que o risco de efeitos colaterais com essas drogas não seja impeditivo”, finaliza. 

Câncer de Mama HER2+2 

Cerca de uma em cada cinco mulheres com câncer de mama, têm uma proteína promotora de crescimento conhecida como HER2 na superfície das células tumorais. Esses cânceres, conhecidos como cânceres de mama HER2-positivos, tendem a crescer e se espalhar de forma mais agressiva. Diferentes tipos de drogas foram desenvolvidas para atingir a proteína HER2.

O status HER2 é determinado analisando o tecido do tumor e quando positivo pode ser bloqueado com medicamentos direcionados reduzindo o crescimento e proliferação dos tumores.

As chamadas terapia anti-HER 2 consistem em anticorpos monoclonais que são versões feitas pelo homem de proteínas do sistema imunológico (anticorpos) que são projetadas para se anexar a um alvo específico. Nesse caso, eles se ligam à proteína HER2 nas células cancerosas, o que impede o crescimento das células.

O trastuzumabe é um anticorpo que tem como alvo as células cancerígenas HER2+. Quando ligado à proteína HER2, o trastuzumabe retarda ou impede o crescimento dessas células. Assim como todos as terapias anti HER 2, este deve ser utilizado apenas no câncer de mama HER2+.

Este medicamento geralmente é administrado com quimioterapia, mas também pode ser usado sozinho (especialmente se a quimioterapia sozinha já tiver sido experimentada). Quando iniciado antes (neoadjuvante) ou depois (adjuvante) da cirurgia para tratar o câncer de mama em estágio inicial, esse medicamento geralmente é administrado por 6 meses a um ano. Para câncer de mama avançado, o tratamento geralmente é administrado enquanto a droga for útil, com o objetivo de reduzir o tamanho dos tumores ou retardar o desenvolvimento do câncer de mama avançado HER2+.

Alguns possíveis efeitos colaterais do trastuzumabe incluem dor de cabeça, febre e calafrios. Não provoca perda de cabelo, náusea ou vômitos, e não tem nenhum efeito sobre a medula óssea. Em casos raros, pode levar a problemas cardíacos. Embora a probabilidade de um evento como esse seja pequeno, discuta esse risco com seu médico antes de iniciar o tratamento. O médico solicitará exames do coração antes e durante o tratamento para garantir que não haja problemas.

 

Referências: 

1. Instituto Nacional do Câncer (INCA)

Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-de-mama/dados-e-numeros/incidencia. Acesso em: 28 de novembro de 2022. 

2.Oncoguia 

Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/terapia-alvo-para-cancer-de-mama-avancado/6250/811/ . Acesso em 30 de novembro de 2022